Excesso de tarefas, rotinas
exaustivas, pressões para o cumprimento de metas e grandes cobranças por
melhoras de desempenho podem contribuir para o aparecimento da doença
Por Monique Soares,
Dentre as doenças de transtorno mental que
podem provocar situações de afastamento no trabalho, está a depressão. Segundo os
especialistas da saúde, essa é uma enfermidade que afeta diretamente no
desempenho dos profissionais no ambiente corporativo e também na gestão das
empresas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), a depressão é a doença mais incapacitante para o trabalho no mundo em
2020. No Brasil, cerca de 5,8% da população sofre com o transtorno, o que
corresponde a 12 milhões de brasileiros com depressão. Essa é a maior taxa da
América Latina e a segunda maior das Américas, ficando atrás apenas dos Estados
Unidos.
A depressão pode ser motivada por diferentes
fatores, sejam eles genéticos, biológicos, psicológicos, externos ou sociais. No
caso do ambiente de trabalho, este pode contribuir para o desenvolvimento da
doença, especialmente quando se trata de climas organizacionais de grande pressão
para o atingimento de metas, bem como de competitividade e de má gerência. “A gente
sabe que a produtividade, a capacidade de criatividade e a motivação maior
estão ligados a um ambiente de apoio e de compreensão, mas as empresas acabam
tendo uma postura de muita pressão para o cumprimento de metas. Isso acaba
sendo um aspecto bastante negativo, principalmente para quem já tem a
vulnerabilidade genética para depressão”, explica o médico psiquiatra Guilherme
Lozi Abdo, diretor clínico da Clínica Modulare.
As pessoas com depressão costumam apresentar
alguns sintomas característicos, como a falta de motivação, o desânimo e a
tristeza crônica. Segundo o psiquiatra, a doença pode fazer com que o
funcionário diminua o ritmo da produtividade e tenha mudanças de comportamento
no local de trabalho. “A pessoa tende a ter uma produtividade mais baixa, uma
dificuldade maior de lidar com os companheiros de trabalho. Às vezes tende a
ter um isolamento, um comportamento até mais irritado, mais impaciente, mais
intolerante. Atrasos. Às vezes a pessoa acaba não tendo a capacidade mais para
cumprir os próprios prazos. Atrasos tanto na entrega do que precisa ser feito
quanto para cumprir sua carga horária na empresa”, detalha. “Ainda existe um certo
preconceito, por mais que as pessoas falem sobre isso. Ainda, infelizmente, as
pessoas fazem uma associação da depressão com a fraqueza, que a pessoa não está
lidando com as próprias questões e pressões. Não é todo mundo que enxerga a
depressão como um transtorno mental grave, uma doença grave”, afirma.
Para a psicóloga clínica e professora da Faculdade Faatesp, Vera Mendes, é de extrema necessidade que as empresas e
os gestores estejam atentos aos sinais de depressão no ambiente corporativo. “Estar
atento a esse meio é extremamente importante. Ter alguém nessa empresa que
consiga ir lá e perguntar: ‘Oi, bom dia, como está se sentindo?’. Isso normalmente é um papel da qualidade, um papel do RH, um
papel da CIPA, que tem esse olhar para o funcionário – ‘Como é que você está? Como está sendo a pandemia para você? O que está
mudando na sua vida?’. Esse seria o ideal, mas nós sabemos que numa empresa
grande isso acaba sendo quase que inviável”, afirma.
Diante da pandemia gerada pela Covid-19, milhares de
brasileiros tiveram que aderir ao sistema de trabalho em casa, o que tornou o
contato entre funcionário e empresa à distância. Com o estresse do confinamento
e impactos na saúde mental das pessoas, o psiquiatra Guilherme Lozi diz que o
mais apropriado no atual momento é que as organizações adotem medidas de
prevenção da depressão. “A pandemia nada mais é que mais um aspecto expressor externo
que contribui para que a gente tenha um aumento da incidência dos casos de
depressão (...) As empresas nesse sentido poderiam até, acho que uma questão
interessante, fazer um trabalho preventivo para que as pessoas não adoeçam numa
frequência um pouco maior do que a gente normalmente já vê”, aponta.
Ainda em relação ao ambiente de trabalho, a psicóloga Vera
Mendes salienta que as empresas precisam estabelecer uma estrutura de apoio ao
funcionário diagnosticado com o transtorno. “A partir do momento que as pessoas
percebem que tem alguém com depressão, é preciso encaminhá-la para uma
avaliação psiquiátrica ou psicológica. Oferecer apoio, conservar – ‘Olha, estou aqui. Se você precisar, eu
posso te ajudar’. A empresa ou os funcionários têm que ter esse olhar de
apoio, de encaminhamento, de conversa, deixar a porta para essa pessoa quando
ela quiser conversar. Orientar essa pessoa. Por isso que o RH é importante,
porque ele pode desenvolver palestras, dinâmicas, espaços de terapia de grupo
dentro da empresa para falar um pouco sobre isso”, afirma.
Já para evitar o assédio moral dentro das organizações que
pode desencadear a depressão, o psiquiatra sugere que as empresas invistam em canais
de comunicação para que as pessoas consigam denunciar esse tipo de
acontecimento. “As empresas que estão buscando um cuidado maior devem facilitar
um canal de comunicação para que os funcionários possam falar sobre o ambiente
de trabalho em si. Uma vez que eles conseguem eventualmente denunciar
comportamentos abusivos em relação às superiores, aos seus chefes, aos seus
gestores, isso pode ser interessante para que a empresa fique atenta e consiga
modificar o ambiente de trabalho para um local com mais postura de compreensão
e positividade”, explica.
Nas organizações há também a implantação da gestão humanizada, que proporciona aos funcionários um ambiente de qualidade, mesmo com metas a serem cumpridas no dia a dia. Além de poder garantir a saúde mental dos colaboradores e prevenir a depressão, a psicóloga Vera Mendes explica que essa gestão contribui tanto para o lucro da empresa como também para o crescimento. “A gestão humanizada ela traz uma satisfação do funcionário na atividade a ser executada. Ela se preocupa com a pessoa e não só com a produção (...) A partir do momento que esse funcionário ele está satisfeito, ele se sente aceito, ele percebe que a empresa está investindo no bem estar dele, a empresa só tem a ganhar. Com o funcionário satisfeito, a empresa consegue lucrar e, juntos, obter crescimento”, afirma.
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