quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Ambiente de trabalho negativo causa a depressão

 

Excesso de tarefas, rotinas exaustivas, pressões para o cumprimento de metas e grandes cobranças por melhoras de desempenho podem contribuir para o aparecimento da doença

 

Por Monique Soares,

Dentre as doenças de transtorno mental que podem provocar situações de afastamento no trabalho, está a depressão. Segundo os especialistas da saúde, essa é uma enfermidade que afeta diretamente no desempenho dos profissionais no ambiente corporativo e também na gestão das empresas. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão é a doença mais incapacitante para o trabalho no mundo em 2020. No Brasil, cerca de 5,8% da população sofre com o transtorno, o que corresponde a 12 milhões de brasileiros com depressão. Essa é a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

A depressão pode ser motivada por diferentes fatores, sejam eles genéticos, biológicos, psicológicos, externos ou sociais. No caso do ambiente de trabalho, este pode contribuir para o desenvolvimento da doença, especialmente quando se trata de climas organizacionais de grande pressão para o atingimento de metas, bem como de competitividade e de má gerência. “A gente sabe que a produtividade, a capacidade de criatividade e a motivação maior estão ligados a um ambiente de apoio e de compreensão, mas as empresas acabam tendo uma postura de muita pressão para o cumprimento de metas. Isso acaba sendo um aspecto bastante negativo, principalmente para quem já tem a vulnerabilidade genética para depressão”, explica o médico psiquiatra Guilherme Lozi Abdo, diretor clínico da Clínica Modulare.

As pessoas com depressão costumam apresentar alguns sintomas característicos, como a falta de motivação, o desânimo e a tristeza crônica. Segundo o psiquiatra, a doença pode fazer com que o funcionário diminua o ritmo da produtividade e tenha mudanças de comportamento no local de trabalho. “A pessoa tende a ter uma produtividade mais baixa, uma dificuldade maior de lidar com os companheiros de trabalho. Às vezes tende a ter um isolamento, um comportamento até mais irritado, mais impaciente, mais intolerante. Atrasos. Às vezes a pessoa acaba não tendo a capacidade mais para cumprir os próprios prazos. Atrasos tanto na entrega do que precisa ser feito quanto para cumprir sua carga horária na empresa”, detalha. “Ainda existe um certo preconceito, por mais que as pessoas falem sobre isso. Ainda, infelizmente, as pessoas fazem uma associação da depressão com a fraqueza, que a pessoa não está lidando com as próprias questões e pressões. Não é todo mundo que enxerga a depressão como um transtorno mental grave, uma doença grave”, afirma.

Para a psicóloga clínica e professora da Faculdade Faatesp, Vera Mendes, é de extrema necessidade que as empresas e os gestores estejam atentos aos sinais de depressão no ambiente corporativo. “Estar atento a esse meio é extremamente importante. Ter alguém nessa empresa que consiga ir lá e perguntar: ‘Oi, bom dia, como está se sentindo?’. Isso normalmente é um papel da qualidade, um papel do RH, um papel da CIPA, que tem esse olhar para o funcionário – ‘Como é que você está? Como está sendo a pandemia para você? O que está mudando na sua vida?’. Esse seria o ideal, mas nós sabemos que numa empresa grande isso acaba sendo quase que inviável”, afirma.

Diante da pandemia gerada pela Covid-19, milhares de brasileiros tiveram que aderir ao sistema de trabalho em casa, o que tornou o contato entre funcionário e empresa à distância. Com o estresse do confinamento e impactos na saúde mental das pessoas, o psiquiatra Guilherme Lozi diz que o mais apropriado no atual momento é que as organizações adotem medidas de prevenção da depressão. “A pandemia nada mais é que mais um aspecto expressor externo que contribui para que a gente tenha um aumento da incidência dos casos de depressão (...) As empresas nesse sentido poderiam até, acho que uma questão interessante, fazer um trabalho preventivo para que as pessoas não adoeçam numa frequência um pouco maior do que a gente normalmente já vê”, aponta.

Ainda em relação ao ambiente de trabalho, a psicóloga Vera Mendes salienta que as empresas precisam estabelecer uma estrutura de apoio ao funcionário diagnosticado com o transtorno. “A partir do momento que as pessoas percebem que tem alguém com depressão, é preciso encaminhá-la para uma avaliação psiquiátrica ou psicológica. Oferecer apoio, conservar – ‘Olha, estou aqui. Se você precisar, eu posso te ajudar’. A empresa ou os funcionários têm que ter esse olhar de apoio, de encaminhamento, de conversa, deixar a porta para essa pessoa quando ela quiser conversar. Orientar essa pessoa. Por isso que o RH é importante, porque ele pode desenvolver palestras, dinâmicas, espaços de terapia de grupo dentro da empresa para falar um pouco sobre isso”, afirma.

Já para evitar o assédio moral dentro das organizações que pode desencadear a depressão, o psiquiatra sugere que as empresas invistam em canais de comunicação para que as pessoas consigam denunciar esse tipo de acontecimento. “As empresas que estão buscando um cuidado maior devem facilitar um canal de comunicação para que os funcionários possam falar sobre o ambiente de trabalho em si. Uma vez que eles conseguem eventualmente denunciar comportamentos abusivos em relação às superiores, aos seus chefes, aos seus gestores, isso pode ser interessante para que a empresa fique atenta e consiga modificar o ambiente de trabalho para um local com mais postura de compreensão e positividade”, explica.

Nas organizações há também a implantação da gestão humanizada, que proporciona aos funcionários um ambiente de qualidade, mesmo com metas a serem cumpridas no dia a dia. Além de poder garantir a saúde mental dos colaboradores e prevenir a depressão, a psicóloga Vera Mendes explica que essa gestão contribui tanto para o lucro da empresa como também para o crescimento. “A gestão humanizada ela traz uma satisfação do funcionário na atividade a ser executada. Ela se preocupa com a pessoa e não só com a produção (...) A partir do momento que esse funcionário ele está satisfeito, ele se sente aceito, ele percebe que a empresa está investindo no bem estar dele, a empresa só tem a ganhar. Com o funcionário satisfeito, a empresa consegue lucrar e, juntos, obter crescimento”, afirma.




Infográfico: Monique Soares


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