terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Queda nas vacinas pode trazer riscos à população

 Além da poliomielite e do sarampo, outras doenças podem ressurgir por conta da baixa cobertura vacinal


Por Monique Soares,

No Brasil, vem se observando uma constante queda nas coberturas vacinais nos últimos cinco anos, o que tem preocupado autoridades em saúde. Segundo especialistas, a baixa adesão às vacinas pode contribuir para o reaparecimento de doenças que até então estavam erradicadas ou controladas, entre elas o sarampo e a poliomielite.

Em 2016, o Brasil obteve pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) a certificação de país livre do sarampo. No entanto, em março de 2019, perdeu o certificado após registrar surtos em três estados brasileiros. Já em relação à poliomielite, o último caso registrado foi em 1989, mas especialistas temem o retorno da doença. “Nós tínhamos praticamente erradicado a poliomielite. (...) Agora, nós estamos fazendo a vigilância novamente, porque caiu a quantidade de crianças imunizadas”, explica a médica pediatra e diretora do curso de medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA), Jane de Eston Armond.

Dados preliminares das Secretarias Estaduais de Saúde revelam que 6,3 milhões de crianças não receberam a vacina contra a paralisia infantil neste ano, ficando abaixo da meta de imunizar 11,2 milhões do público-alvo (crianças de 1 a 5 anos de idade incompletos). Já o sarampo, apenas 13% do público-alvo (população de 20 a 49 anos) foi vacinado contra a doença em 2020. Além disso, até setembro deste ano, foram registrados 7.118 casos e cinco mortes por sarampo no Brasil, segundo o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde.

O PNI também informou, em outubro deste ano, que o país não bateu meta para nenhuma vacina em 2019. De acordo com a médica infectologista, Erika Ferrari, existe alguns fatores que podem explicar a queda contínua nas coberturas vacinais. “É um conjunto de fatores: a presença de um movimento anti-vacina crescente em todo o mundo, a disseminação de fake news, medo de reações adversas, a sensação de segurança no que diz respeito a eliminação de doenças - baixa percepção de risco da população sobre enfermidades erradicadas - e as dificuldades no acesso aos imunizantes nos postos de saúde”, afirma. A infectologista também acrescenta que a pandemia do novo coronavírus contribuiu ainda mais para intensificar a queda de taxas de imunização no Brasil. “Com o isolamento social e o medo de comparecer aos serviços de saúde na pandemia, a cobertura vacinal em 2020 está muito mais abaixo da meta, com algumas vacinas do calendário básico do Programa Nacional de Imunizações não atingindo metade do público-alvo”, explica.  

Sobre o fato das crianças estarem em casa na pandemia, o que pode promover uma proteção mesmo sem vacina, Ferrari diz que as chances de contrair a doença ainda existem. “Isso pode gerar uma falsa sensação de proteção, pois os pais saem de casa e caso não tenham sido vacinados, podem levar a doença para os filhos. Por exemplo, o público-alvo para vacinação contra o sarampo são pessoas adultas com idade entre 20 e 49 anos”, explica. “Uma pessoa com sarampo chega a infectar até 18 pessoas, dai a necessidade de vacinação em massa, pois o sarampo é altamente contagioso e pode evoluir de forma grave”, alerta.

Além do sarampo e da pólio, a infectologista também afirma que a baixa cobertura vacinal pode fazer com que outras doenças ressurjam. “A rubéola está incluída nas doenças com risco eminente de ressurgimento caso o número de vacinação continue a diminuir, já que a vacina contra o sarampo está incluída na chamada tríplice viral, que engloba além do sarampo, a caxumba e a rubéola”, explica. “O maior risco para a rubéola ocorre com as mulheres grávidas, já que o vírus pode ser transmitido para o feto causando complicações como surdez, malformações cardíacas e lesões oculares”, alerta.

Para que a população volte a ter consciência sobre importância da imunização, a pediatra Jane de Eston diz que o Estado deveria investir mais em educação em saúde. “A coisa mais importante que nós temos para evitar o adoecimento é a educação em saúde. E a educação em saúde você faz através de campanhas, de publicações, da mídia que pode soltar vários alertas, vários informes e vários esclarecimentos”, explica. “É muito mais barato educar do que combater as doenças depois”, afirma.

Ainda segundo a pediatra, as vacinas são importantes para o bem de toda a população. “Se eu me contaminar, eu posso contaminar o próximo. É uma questão de cidadania você preservar a sua saúde e preservar a saúde do próximo. (...) A vacina é uma das coisas mais importantes para que você possa garantir que não tenha uma série de doenças”, afirma.


Infográfico: Monique Soares

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