Além da poliomielite e do sarampo, outras doenças podem ressurgir por conta da baixa cobertura vacinal
Por Monique Soares,
No Brasil, vem se observando
uma constante queda nas coberturas vacinais nos últimos cinco anos, o que tem preocupado
autoridades em saúde. Segundo especialistas, a baixa adesão às vacinas pode
contribuir para o reaparecimento de doenças que até então estavam erradicadas
ou controladas, entre elas o sarampo e a poliomielite.
Em 2016, o Brasil obteve
pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) a certificação de país
livre do sarampo. No entanto, em março de 2019, perdeu o certificado após registrar
surtos em três estados brasileiros. Já em relação à poliomielite, o último caso
registrado foi em 1989, mas especialistas temem o retorno da doença. “Nós tínhamos
praticamente erradicado a poliomielite. (...) Agora, nós estamos fazendo a
vigilância novamente, porque caiu a quantidade de crianças imunizadas”, explica
a médica pediatra e diretora do curso de
medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA), Jane de Eston Armond.
Dados preliminares das Secretarias Estaduais
de Saúde revelam que 6,3 milhões de crianças não receberam a vacina contra a
paralisia infantil neste ano, ficando abaixo da meta de imunizar 11,2 milhões do
público-alvo (crianças de 1 a 5 anos de idade incompletos). Já o sarampo, apenas
13% do público-alvo (população de 20 a 49 anos) foi vacinado contra a doença em
2020. Além disso, até setembro deste ano, foram registrados 7.118 casos e cinco
mortes por sarampo no Brasil, segundo o Programa Nacional de Imunizações (PNI) do
Ministério da Saúde.
O PNI também informou, em outubro deste ano, que
o país não bateu meta para nenhuma vacina em 2019. De acordo com a médica
infectologista, Erika Ferrari, existe alguns fatores que podem explicar a queda
contínua nas coberturas vacinais. “É um conjunto de fatores: a presença de um movimento
anti-vacina crescente em todo o mundo, a disseminação de fake news, medo de
reações adversas, a sensação de segurança no que diz respeito a eliminação de
doenças - baixa percepção de risco da população sobre enfermidades erradicadas
- e as dificuldades no acesso aos imunizantes nos postos de saúde”, afirma. A
infectologista também acrescenta que a pandemia do novo coronavírus contribuiu
ainda mais para intensificar a queda de taxas de imunização no Brasil. “Com o
isolamento social e o medo de comparecer aos serviços de saúde na pandemia, a
cobertura vacinal em 2020 está muito mais abaixo da meta, com algumas vacinas
do calendário básico do Programa Nacional de Imunizações não atingindo metade
do público-alvo”, explica.
Sobre o fato das crianças estarem em casa na
pandemia, o que pode promover uma proteção mesmo sem vacina, Ferrari diz que as
chances de contrair a doença ainda existem. “Isso pode gerar uma falsa sensação
de proteção, pois os pais saem de casa e caso não tenham sido vacinados, podem
levar a doença para os filhos. Por exemplo, o público-alvo para vacinação
contra o sarampo são pessoas adultas com idade entre 20 e 49 anos”, explica.
“Uma pessoa com sarampo chega a infectar até 18 pessoas, dai a necessidade de
vacinação em massa, pois o sarampo é altamente contagioso e pode evoluir de
forma grave”, alerta.
Além do sarampo e da pólio, a infectologista
também afirma que a baixa cobertura vacinal pode fazer com que outras doenças
ressurjam. “A rubéola está incluída nas doenças com risco eminente de
ressurgimento caso o número de vacinação continue a diminuir, já que a vacina
contra o sarampo está incluída na chamada tríplice viral, que engloba além do
sarampo, a caxumba e a rubéola”, explica. “O maior risco para a rubéola ocorre
com as mulheres grávidas, já que o vírus pode ser transmitido para o feto
causando complicações como surdez, malformações cardíacas e lesões oculares”, alerta.
Para que a população volte a ter consciência
sobre importância da imunização, a pediatra Jane de Eston diz que o Estado
deveria investir mais em educação em saúde. “A coisa mais importante que nós
temos para evitar o adoecimento é a educação em saúde. E a educação em saúde
você faz através de campanhas, de publicações, da mídia que pode soltar vários
alertas, vários informes e vários esclarecimentos”, explica. “É muito mais
barato educar do que combater as doenças depois”, afirma.
Ainda segundo a pediatra, as vacinas são importantes para o bem de toda a população. “Se eu me contaminar, eu posso contaminar o próximo. É uma questão de cidadania você preservar a sua saúde e preservar a saúde do próximo. (...) A vacina é uma das coisas mais importantes para que você possa garantir que não tenha uma série de doenças”, afirma.
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