Embora o contexto da Covid-19 tenha causado uma mudança positiva em relação às vacinas, especialistas ainda se preocupam com a baixa cobertura vacinal
Por Monique Soares
Uma pesquisa realizada pelo IBOPE
Inteligência, a pedido da farmacêutica Pfizer, revelou que o período de
pandemia do novo coronavírus despertou a atenção dos brasileiros para o tema
vacinação. O estudo foi feito com duas mil pessoas nas cidades de São Paulo,
Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Salvador, e mostrou que 27% da
população passou a se informar mais sobre vacinas e também a considera-las
importante na prevenção de doenças. Por outro lado, o isolamento social
provocou a diminuição na procura de outras imunizações que são apontadas como
essenciais por especialistas da área da saúde.
A médica pediatra e diretora do curso de
medicina da Universidade Santo Amaro (UNISA), Jane de Eston Armond, considera
que o cenário de pandemia da Covid-19 contribuiu ainda mais para a baixa adesão
das pessoas às campanhas de vacinação. “Nós já estávamos vendo uma resistência
à vacinação e com a pandemia então, isso se agravou, porque além da resistência
que já estava vindo algum tempo nós tivemos a chegada do isolamento social. As
pessoas estão receosas em sair de casa. Então isso contribui para uma
diminuição da imunização”, explica. “A imunização da gripe, nós ficamos
estendendo a campanha praticamente até agora e é uma coisa que as pessoas
precisariam se vacinar, porque se a pessoa tem um sintoma vital mas tem uma
vacinação da gripe prévia, consegue perceber que não é H1N1, que não é
influenza A ou B, mas que pode ser até um coronavírus. Então isso facilita o diagnóstico”,
detalha.
A pesquisa do IBOPE Inteligência também apontou
que 33% dos pais atrasaram a imunização dos filhos devido à pandemia ou desconhecem
a atual situação da carteirinha vacinal. Para o pediatra e presidente da
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, o atraso nas vacinas
das crianças é algo preocupante e acredita que esse número apresentado no
estudo possa ser maior. “Nos preocupa e muito esse atraso porque isso a
pesquisa está mostrando, mas os nossos números de pesquisa de cobertura vacinal
no Brasil mostram um número provavelmente bem maior do que esse apontado no
estudo”, afirma. “Se nós já tínhamos baixas coberturas que estavam sendo
destacadas nos últimos anos, tanto que em 2019 nenhuma das vacinas do primeiro
ano de vida nós conseguimos coberturas adequadas pelo Programa Nacional de
Imunizações (PNI), com a pandemia levou-se uma queda que alguns calculam que
possa ser até de 40% ou 50% nas coberturas vacinais que já eram baixas”,
detalha.
Cerca de 18% do público entrevistado
demonstrou incerteza sobre se vacinar ou vacinar familiares em meio ao isolamento
social, pois não sabe ao certo se é seguro sair de casa para tomar vacina. Ainda
segundo o estudo, esse número sobe para 23% na faixa etária de 25 a 34 anos. A
médica pediatra Jane de Eston explica que é necessário que a população tenha
consciência sobre as vacinas mesmo em época de pandemia. “Óbvio que nós temos que
nos preservar, sair de casa quando for necessário, fazer todo o protocolo de
prevenção à Covid-19. Porém, a vacinação ela é importantíssima. Então, você
sair de casa obedecendo ao distanciamento social e voltar para casa com todos
os cuidados, isso é imprescindível. As pessoas estão pensando na Covid-19, mas as
outras doenças que continuam? As
outras continuam e, então, as pessoas precisam pensar nisso sim”, diz.
Com o assunto vacina em alta na sociedade, o pediatra Juarez Cunha diz que os profissionais da área da saúde devem aproveitar o momento para conscientizar os brasileiros sobre a aplicação das vacinas rotineiras. “O assunto vacina e covid-19 circulou muito e continua circulando. Isso também desperta a atenção das pessoas por vacina (...) Enquanto não tivermos uma vacina para Covid-19, nós temos que estimular a aplicação das vacinas rotineiras. Então isso cabe aos profissionais da área da saúde, todas as pessoas envolvidas na área da saúde, em estimular a realização das vacinas que são recomendadas como rotina”, afirma.
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