Por: Ana Schuchovski, Barbara Batista e Wagner Fernandes
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O jornalismo feito online já está presente e
estabelecido nas timelines e feeds de notícia de um leitor-internauta médio.
Veículos jornalísticos já têm participação ativa e constante, tanto em sites
quanto em redes sociais, capazes de publicar notícias de maneira mais dinâmica.
Na internet, existe uma regra clara: chamar a
atenção do internauta. Em tempos em que o ser humano consegue manter-se concentrado
por poucos segundos até que algo o disperse, diversos artifícios são utilizados
para fisgar a atenção do leitor-internauta para que ele clique naquela notícia
em vez de rolar a página para assistir mais um vídeo de animais bonitinhos ou
compartilhar um novo “meme” da moda.
Desde que o jornalismo é
jornalismo, uma matéria ou reportagem pede obrigatoriamente por uma manchete.
De uma maneira geral, a manchete retrata o assunto mais importante
daquela edição, seja em um jornal, revista, telejornal.
Na internet, esse sistema não é diferente. Mas sob
a pressão de se destacar, chamar atenção do leitor e ganhar notoriedade, likes
e compartilhamentos, algumas manchetes tendem para o exagero, ou seja, para o
sensacionalismo.
Um caso recente é a da seguinte manchete: “Temer
deverá assumir a presidência um dia após PMDB decidir sobre desembarque”,
compartilhada nas redes sociais do jornal Folha de S. Paulo. A construção
ambígua da manchete é explicada somente ao longo da matéria, que explica que
Temer assumirá a presidência, temporariamente, enquanto a presidente Dilma
Rousseff viaja aos EUA, um procedimento de praxe, não só em Brasília, mas em
qualquer estado ou cidade.
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Há uma intenção muito clara na construção da
manchete: chamar a atenção pelo choque. Até entender que “Temer assumir a
presidência” não tem nenhuma relação com o possível processo de impeachment ou
renúncia de Dilma Rousseff, o leitor precisará clicar no link, ser
redirecionado ao site e ler a reportagem.
Além da óbvia manipulação da informação – pois a
manchete oferece uma informação incompleta que dá espaço para mais de uma
interpretação – pode-se considerar até uma atitude de má-fé por parte do
jornalista ao construir uma manchete sensacionalista como essa apresentada pela
Folha (e reproduzida por diversos outros veículos).
Longe da política, a seguinte manchete pipocou no
portal UOL nesta semana: “Record contrata “mãe” que explorava Grazi Massafera”.
Apenas ao abrir a matéria, o lead explica: a atriz Ana Barroso, que interpretou
a mãe de Grazi Massafera na novela Verdades Secretas, foi contratada pela
Record, para integrar o elenco do próximo lançamento da emissora “A Terra
Prometida”.
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Nos
caminhos percorridos dentro do universo digital, em especial em redes sociais populares
como o Facebook, esse tipo de artimanha é comum para fisgar o usuário. A
questão é: o manchetismo tendencioso é uma espécie de trapaça com o leitor, uma
armadilha.
O usuário consciente, que domina e faz uso de
diversos canais digitais diariamente, é capaz de perceber essa manobra e
questioná-la, interna e externamente, através das próprias redes – um exemplo
claro dessa contestação são as demonstrações de revolta contra a emissora rede
Globo, que têm crescido desde 2013.
Isso porque, para quem tem
o interesse em se aprofundar no fato que despertou a curiosidade, encontrar uma
matéria que desminta o grande “boom” do título pode ser muito frustrante, além
de soar como manipulação da informação.
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No dia-a-dia isso é fácil de se comprovar. Basta
perceber o grande fluxo de notícias próprias desse objeto de estudo – o
manchetismo tendencioso e sensacionalista – compartilhadas nas redes sociais
como verdade absoluta. O poder do botão “compartilhar” pode transformar
qualquer manchete de um site em uma cadeia sem fim de boatos infundados pelo
tipo de usuário, que diferente do citado anteriormente, não se aprofunda na
notícia e na busca pela informação, e acredita no que está contido apenas no
título, repassando para outros com o mesmo comportamento de consumo de
conteúdo, e acaba transformando o sensacionalismo numa imensa bola de neve.
O jornalismo precisa se
reinventar no Brasil. E como jovens profissionais da área esperamos que isso
aconteça. Que façamos isso acontecer. É sim realidade que a internet mexeu
diretamente com a forma de consumir conteúdo e informação no país e que o nosso
produto final, a notícia, precisa ser atraente para o consumidor.
Mas tratá-la apenas como
objeto de consumo perecível, esquecendo do papel social da informação
jornalística para o desenvolvimento do pensamento crítico do cidadão é a
desconstrução (e desvalorização) da profissão de jornalista, que ao invés de
levar o leitor ao ato de pensar e questionar, passa a servi-lo de mais pão e
circo. E para isso, considerando o número de ferramentas de alienação já
existentes, o jornalismo se torna desnecessário e vazio, incorporando em nossas
vidas como ‘mais do mesmo’.
Reinventar não significa desconstruir. Isso porque
para que jornalismo digital exista não é preciso deixar de ser jornalismo. De
zelar pela objetividade, pela verdade e cumprir sua função social. Pois,
veja: se eu tirar de uma xícara o fundo, ela poderá continuar parecendo uma
xícara, mas já não terá a mesma função. De que vale uma xícara que não sustenta
o café dentro? O objeto existe mas é inútil.
A mesma premissa cabe a esse jornalismo que não
informa: é preciso levar a notícia como ela é. Sem truques sensacionais que
atraia um enxame de curiosos, mas que não os alimente de informação. Para
construir um novo meio de aceitação junto ao público, de reafirmar e
revalorizar o jornalismo, sem ser desleal aos seus princípios e à sociedade,
precisamos partir daí.
*Ana Schuchovski, Barbara Batista e Wagner Fernandes são alunos do 7º semestre de Jornalismo da Universidade de Santo Amaro (Unisa).
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