Por Lucio Bergamo, Marilza dos Santos e Thiago Altemio
crédito: The Stocks
Já foi a época em que
existiam somente uma meia dúzia de veículos de comunicação confiáveis. Muitos
podem sentir saudades dessa época quando bastava correr para a banca de
jornais, ligar o rádio ou a televisão e você teria uma ou outra escolha a
fazer. Atualmente, com o advento das redes sociais, cada um pode ser um
divulgador de furos de reportagem. Todos têm voz. É a multivocalidade do
mundo digital.
Então, a questão que
aparece na mente é: em quem confiar? Se todos podem publicar, quem cuida da
checagem ou quem tem um editor que colocaria as perguntas difíceis, aquelas que
o repórter pelo calor do momento acabou se esquecendo, ou quem garante que
aquilo é mesmo verdade?
Uma situação pré-digital
Voltemos ao mundo
pré-digital. Imaginemos uma situação fictícia, mas corriqueira em qualquer redação.
Um repórter é designado para cobrir uma notícia de última hora, uma entrevista
exclusiva de um deputado estadual que tem falado da onda de corrupção
no governo. Ele fala veementemente dos problemas que viu com
os próprios olhos. Então, o repórter, atento, pergunta sobre as afirmações
feitas naquela entrevista e onde ou com quem elas podem ser confirmadas. A
resposta decepciona. “Só eu estava lá!”, e completa: “Sou o único que viu tudo
acontecendo’.
Sem ter como apurar,
provavelmente, o repórter voltaria com uma suposta informação que seria
publicada, mas sem ter como confirmar. Não seria uma acusação contundente de
impossível refutação. O furo de reportagem foi conseguido, mas a menos que o
repórter consiga mais alguém para confirmar a história, tudo perderá em poucos
dias a força e a importância.
crédito: The Stocks |
É fácil entender o porquê.
E a relação com o que acontece hoje é mais clara do que parece. Somente
no Brasil, cerca de 57% da população, segundo a ONU, em pesquisa divulgada em
setembro de 2015, tem acesso à internet. São cerca de 114,2 milhões de pessoas
conectadas, levando em conta o último censo realizado pelo IBGE em 2013, que
listou 200,4 milhões de habitantes no país.
O cuidado tem que ser
extremo, pois algumas mentiras podem se tornar dolorosas verdades em meios a
esse ambiente cada vez mais hostil que chamamos de internet. E a culpa, sem dúvida
alguma, não é dos leitores e seguidores fiéis das plataformas. Eles simplesmente
espalham aquilo que leem e acreditam que seja a mais pura verdade.
Umberto Eco e "o idiota como portador da verdade"
O escritor e filosofo
italiano Umberto Eco chegou a criticar, com certa dureza, a voz dada aos
internautas nas redes sociais durante um evento no qual ele recebeu o título de
doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte
da Itália.
"Normalmente, eles
[os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à
palavra de um Prêmio Nobel", disse o intelectual. Segundo o autor, a TV já havia
colocado o "idiota da aldeia" em um patamar no qual ele se sentia
supremo. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a
portador da verdade", acrescentou.
O fato é que essa
“legião” apontada no discurso do filosofo é alimentada por conteúdos
publicados, muitas das vezes, por grandes veículos de comunicação e seus repórteres.
A culpa seria desses profissionais que enfrentam os desafios diários de
redações cada vez mais enxutas? Ou ainda a culpa seria do hard news e o
imediatismo dos conteúdos online?
Diante dessas perguntas,
talvez sem boas respostas, nos vemos em meio a uma “redação colaborativa”, onde
os meios de comunicação e seus receptores trabalham certa sinergia na apuração
e checagem de conteúdos publicados pelas fontes e seus leitores. Tarefa essa
que deveria ser do repórter e do veículo para qual ele trabalha.
(Lucio Bergamo, Marilza Santos e Thiago Altemio são alunos do 7° semestre de Jornalismo da Universidade de Santo Amaro (Unisa *
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