Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), suicídios superam o número de vítimas da Aids
pelo mundo. No Brasil, é registrado um caso a cada 45 minutos.
Indíce
de suicídio registrados no Brasil. Infográfico por Livia Alves Por:
Livia Alves
Durante
o mês do setembro, o tema “saúde mental” torna-se prioridade. Neste período,
diversas instituições, inclusive as de ensino, trabalham para incentivar o
público na busca por ajuda profissional, como auxílio na luta contra a
depressão e outros transtornos psicológicos. Este período ficou conhecido como “Setembro
Amarelo”.
Todos
os anos, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio no mundo. Em 2013, o Brasil
se encontrava em oitavo lugar dentre os países com maior número de casos. Segundo
Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda principal causa de
mortes entre jovens com idade de 15 a 29 anos, perdendo apenas para acidentes
de trânsito.
De
acordo com o site Comunica Que Muda (CQM), a cada 40 segundos, um suicídio
acontece no mundo, e para cada caso, pelo menos 20 tentativas. Já no Brasil, 32
pessoas tiram a própria vida por dia. Segundo o Mapa de Violência, entre 2002 e
2012, o total de suicídios passou de 7.726 para 10.321, um aumento de 33,6%. Em
2016 (último ano do qual havia dados disponíveis) só no Brasil, foram
registradas mais de 13 mil mortes decorrentes de suicídio.
Como forma de
combater o aumento de casos, diversas instituições trazem oficinas e palestras
durante o mês de setembro como forma de incentivar a busca por lidar com suas
questões psicológicas de forma saudável. Entre essas instituições, a
Universidade Santo Amaro (UNISA) disponibilizará palestras online sobre temas
voltados para saúde mental na vida universitária, durante todo o mês.
De acordo com a
coordenadora de extensão da UNISA, Lis Laikeis Bertan, a universidade tem um
papel crucial na disseminação da informação, e fala como esses eventos podem
ajudar os alunos. “Ajudam com a orientação e informação para que os jovens e
adultos possam se conscientizar dos perigos da ansiedade, da depressão e do suicídio.
É importante que as pessoas entendam que é uma doença e que existem tratamento”,
afirma Lis.
Segundo a
psicóloga Letícia de Carvalho Guimarães, o setembro amarelo não é o
protagonista da prevenção à depressão aos jovens, mas um movimento de
conscientização “É uma mobilização plural que ajuda a família, a
escola e a sociedade em como devemos valorizar conceitos esquecidos como
empatia, a escuta e a atenção para os indivíduos, que estão passando pela
depressão, e os que necessitam de gatilhos positivos pela preservação da vida”,
afirma a psicóloga, que complementa falando sobre o que poderia ajudar nessa
luta: “seria na conscientização dos jovens que estão passando pela depressão
para entenderem que não estão sozinhos”.
A
estudante Gabriela Cleim conta como a orientação de sua professora a ajudou e
incentivou a buscar apoio psicológico quando tinha 17 anos de idade, época em
que não conseguia sentir motivação para viver. “Passei por experiências novas e
percebi que eu estava bastante mal. Eu pensava que era mais fácil eu não
existir, que ninguém gostava de mim, que ninguém iria se importar se eu
deixasse de existir. Eu só queira ficar dormindo, eu não tinha nenhuma
perspectiva boa sobre minha vida. Ter criado coragem para aceitar que eu tinha
um problema e precisava de ajuda foi o início de tudo, me ajudou demais”,
afirma Cleim. E completa: “continuo a me descobrir e a me desenvolver e isso
tudo foi graças a uma professora que eu tive, ela foi a pessoa que me ajudou e
me incentivou a evoluir em todos os sentidos”.
O estudante
de direito Otávio Otto dos Santos conta que seu primeiro contato com psicólogos
foi no primário, aos 8 anos de idade. As consultas duraram por cerca de um ano,
e depois aos 18 anos voltou a se consultar por conta própria. Otto observa que
existe uma falta de atenção por parte das instituições de ensino, quando se
trata da saúde mental dos alunos, “Nesse intervalo (entre os 8 e 18 anos), não
houve intervenção da escola. A impressão que tenho é que vão parando de dar
importância a esse tipo de problema conforme você cresce”, afirma o estudante.
Atualmente,
Otto se consulta periodicamente, o que o ajudou a lidar com um acidente que o
deixou paraplégico aos 29 anos. “Você tem que resinificar sua vida inteira, tem
pessoas que lidam com isso bem, mas não é todo mundo que consegue fazer isso
(...), passam a te olhar diferente. Estou em processo de recuperação há 3 anos,
e eu já pensei em acabar com tudo várias vezes. É um processo, não é uma coisa
instantânea que você vai falar uma vez (com o psicólogo) e vai resolver seus
problemas, é algo trabalhoso. E comigo foi importante porque me faz repensar a
minha condição, me ajuda a encontrar soluções, a lidar com a dor, com a perda e
principalmente com a raiva, porque você fica muito revoltado, muito infeliz com
a situação”, afirma.
Apesar do incentivo,
saúde mental ainda é considerado um tabu dentro da sociedade, visto por muitos
como desnecessário. Segundo pesquisa da Secretaria de Saúde do governo do
Estado do Paraná, a maioria das pessoas, quando ouvem falar em “Saúde Mental”,
pensa em “Doença Mental”, o que causa um estranhamento quanto à busca por apoio
psicológico, e muitas vezes, as pessoas que sofrem com o transtorno não sabem
que precisam de ajuda.
A psicóloga Letícia de
Carvalho fala sobre os sintomas da depressão. “Quando o indivíduo oferece
sinais como: isolamento, tristeza prolongada, apatia, falta de apetite, queixas
como “quero ir embora desse mundo, não sirvo para nada, não sou aceito”, dentre
outros aspectos de mudança de comportamento”, afirma a psicóloga. Letícia
também comenta que transtornos psicológicos nem sempre são visíveis para outras
pessoas. “Muitos indivíduos, que têm depressão, vivem em um lugar comum na
sociedade, saem, namoram, vão para festas, mas quando há um pico depressivo, é
onde o perigo está. E muitos gatilhos negativos como traumas, bullyings e maus
tratos podem levar a tentativa do suicídio”, diz.
Existem diversas instituições que se colocam em apoio a luta contra a
depressão. Instituições de saúde como o Sistema Único de Saúde (SUS). Oferecem
apoio psicológico gratuito. Em caso de emergência, o telefone 188 do Centro de
Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento profissional 24h por dia, podendo
ser acessado também pela internet.