Com a suspensão das aulas presencias, escolas precisaram se adaptar ao ensino à distância
Por Monique Soares,
Diversos setores foram afetados pela pandemia
da Covid-19, inclusive a educação. Após a Organização Mundial da Saúde (OMS)
estabelecer medidas de distanciamento social para reduzir a propagação do novo vírus
(Sars-CoV-2), escolas tiveram que transformar as aulas presenciais em remotas. Segundo
os dados da Unicef Brasil,
cerca de 44 milhões de crianças e adolescentes precisaram deixar o ambiente
escolar devido ao atual cenário mundial; dos que estavam matriculados antes da
pandemia, 4 milhões não conseguiram dar prosseguimento as atividades escolares
em casa.
Apesar das aulas online se tornarem a principal
alternativa de estudo por conta do fechamento das escolas, o período de
pandemia escancarou a desigualdade digital presente no país. Os dados da pesquisa
feita pelo TIC Kids Brasil (2019), divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, apontou que 4,8 milhões de crianças e adolescentes não
possuem acesso à internet. Além disso, outra pesquisa realizada pelo TIC
Educação Brasil (2019) revelou que 39% dos
estudantes de ensino público não contam com um computador ou tablet na
residência. Dessa forma, milhares de alunos foram prejudicados por não terem
condições de fazer o acompanhamento das aulas virtuais.
De acordo com a coordenadora da área de
educação do Instituto Alana, Raquel Franzim, o longo período de afastamento do
ambiente escolar pode ocasionar em impactos negativos para as crianças. “Referências
internacionais mostram que quanto maior o tempo afastado da escola, mais
prejuízo isso traz para crianças e adolescentes, especialmente o risco de
abandono escolar e evasão”, aborda. Ainda segundo a coordenadora, o
distanciamento social causado pela pandemia do novo coronavírus prejudicou nos
processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, em especial as que se
encontram em situações de maior desigualdade social e educativa. “Essas crianças,
elas costumam ser as crianças moradoras de regiões mais periféricas, crianças e
adolescentes negros, crianças que já vivem situações de bastante fragilidade
econômica e social. Portanto, ausência da escola, ausência prolongada que já
vivemos em cinco meses, ela acarreta sim um impacto nas bases dessas crianças”,
explica.
Além dos estudantes, professores também tiveram
de enfrentar desafios com o ensino à distância. Segundo Cláudio Marta de
Carvalho, professor de história na Escola Estadual Gertrudes Eder, na cidade de
Itapecerica da Serra (SP), nem todos os profissionais da educação apresentam uma
formação tecnológica, o que foi considerado um dos principais obstáculos para
continuar as aulas online. “Muitos professores não tem esse acesso, não tem essa
estrutura e também não tem essa competência tecnológica. Muitos professores,
inclusive, que já são idosos, não tem como estar usando um aparelho de smartphone
para poder estar mandando conteúdo para os alunos ou estar fazendo esse
acompanhamento”, conta. Outra dificuldade apontada pelo professor em relação às
aulas remotas foi também a questão da pouca interação com os alunos. “Em sala,
mesmo que eles não fizessem a atividade, você conseguia alcançar a sala em
100%. Com essas ferramentas de tecnologia, você não alcança nem 20% desses
alunos. Essa acaba sendo uma das maiores dificuldades”, detalha.
Uma pesquisa do Datafolha referente aos estudos em casa de alunos das redes pública municipal e estadual no Brasil, mostrou que a desmotivação dos estudantes passou de 46% em maio para 51% em julho. Perguntada sobre quais alternativas podem ser consideradas para enfrentar tal problema, a coordenadora Raquel Franzim explicou que o ideal é que os sistemas educacionais selecionem as atividades mais importantes para serem realizadas no momento de confinamento domiciliar. “É importante que as secretarias municipais e estaduais de educação e as escolas considerem quais são as atividades mais essenciais ou mais significativas para ocorrer nesse período de isolamento social”, explica. Já para evitar casos de abandono e de evasão escolar, Raquel considera que secretarias de educação e também as escolas precisarão desenvolver estratégias de busca ativa para poder identificar os alunos que são mais vulneráveis em abandonar a escola. “(Essa) busca ativa é um mecanismo de identificação de crianças e adolescentes que podem dar pistas ou dar sinais de possível abandono escolar (...) Neste momento, durante a pandemia, as escolas já podem ir também identificar famílias que tem maior vulnerabilidade social em que os estudantes corram um risco maior de ingressar ou em atividades domésticas para auxiliar os pais ou em atividades de trabalho fora de casa para apoio à família”, detalha.
O professor Cláudio Marta complementa ao dizer que é preciso
um trabalho conjunto da comunidade escolar para haver uma recuperação eficaz
dos alunos em um cenário de retorno às aulas e também para evitar a evasão escolar.
“Nós temos que pensar lá na frente: como é que vamos resgatar esse aluno ou esse
adolescente para que ele não fique não só desmotivado, mas que de fato ele não
se mantenha nesse processo de evasão? É todo aquele processo de acolhimento
emocional, de orientação dos estudos e de atividades que sejam mais culturais e
mais lúdicas, trazer o aluno para ser pertencente à escola. E esse é um
trabalho que tem que ser feito por toda a comunidade escolar, como professores,
inspetores, profissionais da secretaria e também os pais”, explica.
0 comentários:
Postar um comentário