sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Pandemia atinge a educação

 Com a suspensão das aulas presencias, escolas precisaram se adaptar ao ensino à distância

 

Por Monique Soares,

Diversos setores foram afetados pela pandemia da Covid-19, inclusive a educação. Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecer medidas de distanciamento social para reduzir a propagação do novo vírus (Sars-CoV-2), escolas tiveram que transformar as aulas presenciais em remotas. Segundo os dados da Unicef Brasil, cerca de 44 milhões de crianças e adolescentes precisaram deixar o ambiente escolar devido ao atual cenário mundial; dos que estavam matriculados antes da pandemia, 4 milhões não conseguiram dar prosseguimento as atividades escolares em casa.

Apesar das aulas online se tornarem a principal alternativa de estudo por conta do fechamento das escolas, o período de pandemia escancarou a desigualdade digital presente no país. Os dados da pesquisa feita pelo TIC Kids Brasil (2019), divulgada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, apontou que 4,8 milhões de crianças e adolescentes não possuem acesso à internet. Além disso, outra pesquisa realizada pelo TIC Educação Brasil (2019) revelou que 39% dos estudantes de ensino público não contam com um computador ou tablet na residência. Dessa forma, milhares de alunos foram prejudicados por não terem condições de fazer o acompanhamento das aulas virtuais.

De acordo com a coordenadora da área de educação do Instituto Alana, Raquel Franzim, o longo período de afastamento do ambiente escolar pode ocasionar em impactos negativos para as crianças. “Referências internacionais mostram que quanto maior o tempo afastado da escola, mais prejuízo isso traz para crianças e adolescentes, especialmente o risco de abandono escolar e evasão”, aborda. Ainda segundo a coordenadora, o distanciamento social causado pela pandemia do novo coronavírus prejudicou nos processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, em especial as que se encontram em situações de maior desigualdade social e educativa. “Essas crianças, elas costumam ser as crianças moradoras de regiões mais periféricas, crianças e adolescentes negros, crianças que já vivem situações de bastante fragilidade econômica e social. Portanto, ausência da escola, ausência prolongada que já vivemos em cinco meses, ela acarreta sim um impacto nas bases dessas crianças”, explica.

Além dos estudantes, professores também tiveram de enfrentar desafios com o ensino à distância. Segundo Cláudio Marta de Carvalho, professor de história na Escola Estadual Gertrudes Eder, na cidade de Itapecerica da Serra (SP), nem todos os profissionais da educação apresentam uma formação tecnológica, o que foi considerado um dos principais obstáculos para continuar as aulas online. “Muitos professores não tem esse acesso, não tem essa estrutura e também não tem essa competência tecnológica. Muitos professores, inclusive, que já são idosos, não tem como estar usando um aparelho de smartphone para poder estar mandando conteúdo para os alunos ou estar fazendo esse acompanhamento”, conta. Outra dificuldade apontada pelo professor em relação às aulas remotas foi também a questão da pouca interação com os alunos. “Em sala, mesmo que eles não fizessem a atividade, você conseguia alcançar a sala em 100%. Com essas ferramentas de tecnologia, você não alcança nem 20% desses alunos. Essa acaba sendo uma das maiores dificuldades”, detalha.

Uma pesquisa do Datafolha referente aos estudos em casa de alunos das redes pública municipal e estadual no Brasil, mostrou que a desmotivação dos estudantes passou de 46% em maio para 51% em julho. Perguntada sobre quais alternativas podem ser consideradas para enfrentar tal problema, a coordenadora Raquel Franzim explicou que o ideal é que os sistemas educacionais selecionem as atividades mais importantes para serem realizadas no momento de confinamento domiciliar.  “É importante que as secretarias municipais e estaduais de educação e as escolas considerem quais são as atividades mais essenciais ou mais significativas para ocorrer nesse período de isolamento social”, explica. Já para evitar casos de abandono e de evasão escolar, Raquel considera que secretarias de educação e também as escolas precisarão desenvolver estratégias de busca ativa para poder identificar os alunos que são mais vulneráveis em abandonar a escola. “(Essa) busca ativa é um mecanismo de identificação de crianças e adolescentes que podem dar pistas ou dar sinais de possível abandono escolar (...) Neste momento, durante a pandemia, as escolas já podem ir também identificar famílias que tem maior vulnerabilidade social em que os estudantes corram um risco maior de ingressar ou em atividades domésticas para auxiliar os pais ou em atividades de trabalho fora de casa para apoio à família”, detalha. 

O professor Cláudio Marta complementa ao dizer que é preciso um trabalho conjunto da comunidade escolar para haver uma recuperação eficaz dos alunos em um cenário de retorno às aulas e também para evitar a evasão escolar. “Nós temos que pensar lá na frente: como é que vamos resgatar esse aluno ou esse adolescente para que ele não fique não só desmotivado, mas que de fato ele não se mantenha nesse processo de evasão? É todo aquele processo de acolhimento emocional, de orientação dos estudos e de atividades que sejam mais culturais e mais lúdicas, trazer o aluno para ser pertencente à escola. E esse é um trabalho que tem que ser feito por toda a comunidade escolar, como professores, inspetores, profissionais da secretaria e também os pais”, explica.



Infográfico: Monique Soares

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