quarta-feira, 22 de junho de 2016

Tudo por um "like": o jornalismo sensacionalista nas redes sociais

Por: Ana Schuchovski, Barbara Batista e Wagner Fernandes

                    Crédito: Reprodução

 O jornalismo feito online já está presente e estabelecido nas timelines e feeds de notícia de um leitor-internauta médio. Veículos jornalísticos já têm participação ativa e constante, tanto em sites quanto em redes sociais, capazes de publicar notícias de maneira mais dinâmica.

 Na internet, existe uma regra clara: chamar a atenção do internauta. Em tempos em que o ser humano consegue manter-se concentrado por poucos segundos até que algo o disperse, diversos artifícios são utilizados para fisgar a atenção do leitor-internauta para que ele clique naquela notícia em vez de rolar a página para assistir mais um vídeo de animais bonitinhos ou compartilhar um novo “meme” da moda.

 Desde que o jornalismo é jornalismo, uma matéria ou reportagem pede obrigatoriamente por uma manchete. De uma maneira geral, a manchete retrata o assunto mais importante daquela edição, seja em um jornal, revista, telejornal.

 Na internet, esse sistema não é diferente. Mas sob a pressão de se destacar, chamar atenção do leitor e ganhar notoriedade, likes e compartilhamentos, algumas manchetes tendem para o exagero, ou seja, para o sensacionalismo.  

 Um caso recente é a da seguinte manchete: “Temer deverá assumir a presidência um dia após PMDB decidir sobre desembarque”, compartilhada nas redes sociais do jornal Folha de S. Paulo. A construção ambígua da manchete é explicada somente ao longo da matéria, que explica que Temer assumirá a presidência, temporariamente, enquanto a presidente Dilma Rousseff viaja aos EUA, um procedimento de praxe, não só em Brasília, mas em qualquer estado ou cidade.


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 Há uma intenção muito clara na construção da manchete: chamar a atenção pelo choque. Até entender que “Temer assumir a presidência” não tem nenhuma relação com o possível processo de impeachment ou renúncia de Dilma Rousseff, o leitor precisará clicar no link, ser redirecionado ao site e ler a reportagem.

Além da óbvia manipulação da informação – pois a manchete oferece uma informação incompleta que dá espaço para mais de uma interpretação – pode-se considerar até uma atitude de má-fé por parte do jornalista ao construir uma manchete sensacionalista como essa apresentada pela Folha (e reproduzida por diversos outros veículos).

  Longe da política, a seguinte manchete pipocou no portal UOL nesta semana: “Record contrata “mãe” que explorava Grazi Massafera”. Apenas ao abrir a matéria, o lead explica: a atriz Ana Barroso, que interpretou a mãe de Grazi Massafera na novela Verdades Secretas, foi contratada pela Record, para integrar o elenco do próximo lançamento da emissora “A Terra Prometida”. 

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 Nos caminhos percorridos dentro do universo digital, em especial em redes sociais populares como o Facebook, esse tipo de artimanha é comum para fisgar o usuário. A questão é: o manchetismo tendencioso é uma espécie de trapaça com o leitor, uma armadilha.

 O usuário consciente, que domina e faz uso de diversos canais digitais diariamente, é capaz de perceber essa manobra e questioná-la, interna e externamente, através das próprias redes – um exemplo claro dessa contestação são as demonstrações de revolta contra a emissora rede Globo, que têm crescido desde 2013.
 Isso porque, para quem tem o interesse em se aprofundar no fato que despertou a curiosidade, encontrar uma matéria que desminta o grande “boom” do título pode ser muito frustrante, além de soar como manipulação da informação. 


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 No dia-a-dia isso é fácil de se comprovar. Basta perceber o grande fluxo de notícias próprias desse objeto de estudo – o manchetismo tendencioso e sensacionalista – compartilhadas nas redes sociais como verdade absoluta. O poder do botão “compartilhar” pode transformar qualquer manchete de um site em uma cadeia sem fim de boatos infundados pelo tipo de usuário, que diferente do citado anteriormente, não se aprofunda na notícia e na busca pela informação, e acredita no que está contido apenas no título, repassando para outros com o mesmo comportamento de consumo de conteúdo, e acaba transformando o sensacionalismo numa imensa bola de neve.

 O jornalismo precisa se reinventar no Brasil. E como jovens profissionais da área esperamos que isso aconteça. Que façamos isso acontecer. É sim realidade que a internet mexeu diretamente com a forma de consumir conteúdo e informação no país e que o nosso produto final, a notícia, precisa ser atraente para o consumidor.

 Mas tratá-la apenas como objeto de consumo perecível, esquecendo do papel social da informação jornalística para o desenvolvimento do pensamento crítico do cidadão é a desconstrução (e desvalorização) da profissão de jornalista, que ao invés de levar o leitor ao ato de pensar e questionar, passa a servi-lo de mais pão e circo. E para isso, considerando o número de ferramentas de alienação já existentes, o jornalismo se torna desnecessário e vazio, incorporando em nossas vidas como ‘mais do mesmo’.

 Reinventar não significa desconstruir. Isso porque para que jornalismo digital exista não é preciso deixar de ser jornalismo. De zelar pela objetividade, pela verdade e cumprir sua função social.  Pois, veja: se eu tirar de uma xícara o fundo, ela poderá continuar parecendo uma xícara, mas já não terá a mesma função. De que vale uma xícara que não sustenta o café dentro? O objeto existe mas é inútil.  

 A mesma premissa cabe a esse jornalismo que não informa: é preciso levar a notícia como ela é. Sem truques sensacionais que atraia um enxame de curiosos, mas que não os alimente de informação. Para construir um novo meio de aceitação junto ao público, de reafirmar e revalorizar o jornalismo, sem ser desleal aos seus princípios e à sociedade, precisamos partir daí.


*Ana Schuchovski, Barbara Batista e Wagner Fernandes são alunos do 7º semestre de Jornalismo da Universidade de Santo Amaro (Unisa). 

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