segunda-feira, 20 de junho de 2016

Webjornalismo, Umberto Eco e "o idiota como portador da verdade"



                                                             Por Lucio Bergamo, Marilza dos Santos e Thiago Altemio 


crédito: The Stocks

Já foi a época em que existiam somente uma meia dúzia de veículos de comunicação confiáveis. Muitos podem sentir saudades dessa época quando bastava correr para a banca de jornais, ligar o rádio ou a televisão e você teria uma ou outra escolha a fazer. Atualmente, com o advento das redes sociais, cada um pode ser um divulgador de furos de reportagem. Todos têm voz. É a multivocalidade do mundo digital.

Então, a questão que aparece na mente é: em quem confiar? Se todos podem publicar, quem cuida da checagem ou quem tem um editor que colocaria as perguntas difíceis, aquelas que o repórter pelo calor do momento acabou se esquecendo, ou quem garante que aquilo é mesmo verdade?

Uma situação pré-digital

Voltemos ao mundo pré-digital. Imaginemos uma situação fictícia, mas corriqueira em qualquer redação. Um repórter é designado para cobrir uma notícia de última hora, uma entrevista exclusiva de um deputado estadual que tem falado da onda de corrupção no governo. Ele fala veementemente dos problemas que viu com os próprios olhos. Então, o repórter, atento, pergunta sobre as afirmações feitas naquela entrevista e onde ou com quem elas podem ser confirmadas. A resposta decepciona. “Só eu estava lá!”, e completa: “Sou o único que viu tudo acontecendo’. 

Sem ter como apurar, provavelmente, o repórter voltaria com uma suposta informação que seria publicada, mas sem ter como confirmar. Não seria uma acusação contundente de impossível refutação. O furo de reportagem foi conseguido, mas a menos que o repórter consiga mais alguém para confirmar a história, tudo perderá em poucos dias a força e a importância.

crédito: The Stocks
É fácil entender o porquê. E a relação com o que acontece hoje é mais clara do que parece.  Somente no Brasil, cerca de 57% da população, segundo a ONU, em pesquisa divulgada em setembro de 2015, tem acesso à internet. São cerca de 114,2 milhões de pessoas conectadas, levando em conta o último censo realizado pelo IBGE em 2013, que listou 200,4 milhões de habitantes no país.

O cuidado tem que ser extremo, pois algumas mentiras podem se tornar dolorosas verdades em meios a esse ambiente cada vez mais hostil que chamamos de internet. E a culpa, sem dúvida alguma, não é dos leitores e seguidores fiéis das plataformas. Eles simplesmente espalham aquilo que leem e acreditam que seja a mais pura verdade.

Umberto Eco e "o idiota como portador da verdade"

O escritor e filosofo italiano Umberto Eco chegou a criticar, com certa dureza, a voz dada aos internautas nas redes sociais durante um evento no qual ele recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, norte da Itália.

"Normalmente, eles [os imbecis] eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel", disse o intelectual. Segundo o autor, a TV já havia colocado o "idiota da aldeia" em um patamar no qual ele se sentia supremo. "O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade", acrescentou.

O fato é que essa “legião” apontada no discurso do filosofo é alimentada por conteúdos publicados, muitas das vezes, por grandes veículos de comunicação e seus repórteres. A culpa seria desses profissionais que enfrentam os desafios diários de redações cada vez mais enxutas? Ou ainda a culpa seria do hard news e o imediatismo dos conteúdos online?

Diante dessas perguntas, talvez sem boas respostas, nos vemos em meio a uma “redação colaborativa”, onde os meios de comunicação e seus receptores trabalham certa sinergia na apuração e checagem de conteúdos publicados pelas fontes e seus leitores. Tarefa essa que deveria ser do repórter e do veículo para qual ele trabalha.

     (Lucio Bergamo, Marilza  Santos e Thiago Altemio são alunos do 7° semestre de Jornalismo da Universidade de Santo Amaro (Unisa *  






Share:

0 comentários:

Postar um comentário

Marcadores

Arquivo do blog